quinta-feira, 12 de agosto de 2010

INFÂNCIA , OU, POR ONDE ANDA ESSA CONSTRUÇÃO SOCIAL?

Saiba



Saiba: todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão também
Hitler, Bush e Saddan Hussein
Quem tem grana e quem não tem
Saiba: todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
E também você e eu
Saiba: todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar



(Trecho de uma música de Arnaldo
Antunes)


Arnaldo Antunes, através dessa canção, parece lembrar-nos disso: já fomos bebê, criança e já tivemos infância. Não iguais, mas com sabores inesquecíveis, para alguns doce, para outros amarga... Todos tivemos, muito lembramos e cada vez mais tentamos resgatar essas vivências para quem sabe entender as transformações vividas, para quem sabe questionarmos a humanidade, para trilhar outras possibilidades, para nos indignarmos, para gritarmos, para vermos novamente o verdadeiro ser criança, e esse, mesmo que na frente de toda a tecnologia, tenha o prazer de estar começando um pequeno mundinho, onde ele próprio faça suas indagações, que teste suas curiosidades e que descubra o seu espaço.
É impraticável falarmos sobre a infância e não nos arremessarmos ao nosso passado, sempre olhando com saudosismo essa fase que nem bem sabemos por que está tão mudada. A diferenciação entre as épocas faz com que não acreditemos que passar uma tarde jogando videogame seja brincar, sempre fazendo referência às antigas brincadeiras que tanto nos faziam feliz. Por já termos tido infância (mesmo que em outros tempos), acabamos comparando as nossas ações de quando éramos crianças, com as das crianças atuais.
De fato, ainda estamos muito enlaçados a uma visão de infância saudosista, o que é muito bom, mas penso que o seu desaparecimento, na verdade é uma adequação aos tempos em que vivemos. A infância na rua ou no quintal de casa foi substituída pela infância em lugares coletivos, e esse, é o principal motivo de termos muito enfoque nessa questão atualmente. Temos que enxergar a infância, mesmo que ela tenha mudado suas características.
O questionamento a cerca da infância é fundamental para falarmos sobre a educação e cuidados dos pequenos em lugares coletivos. A visão histórica desse construto social perante a família, a sociedade e principalmente diante dos educadores da primeira infância, influencia todo esse fazer, que pode ser cheio de novidades, mas também com considerações ainda tão adultas, resultados de anos (posso dizer séculos?!) da não visão da criança como ser ativo, capaz de construir o seu conhecimento por meio de ações e interações com o meio que o cerca.
Em busca de respostas para essa nova visão de infância e de ser criança, encontramos algumas respostas em títulos de livros, que nos sugerem novas significações para o assunto: “Crianças, essas conhecidas tão desconhecidas”, “Infância Plural: crianças do nosso tempo”, “Criança pede respeito”, “O desaparecimento da infância”, ou ainda, “Com olhos de criança” e “Quando as crianças dizem: agora chega!”, isso para citar só os mais conhecidos dos professores que trabalham com os infantes.
Ao longo da nossa história temos os relatos das mais variadas infâncias, e nos livros acima citados encontramos estudos sobre a sua possível invenção, do seu esquecimento, do seu desaparecimento e do seu silenciamento. Bujes (2002) fala que essas características determinantes dependiam (e porque não dependem?) do tempo social, cronológico, geográfico.
A infância é um construto social, ou seja, ela sempre existiu, assim como as crianças, o que é diferente nessa existência são os contextos em que elas estão inseridas, a importância que lhes são dadas.
Corazza, de uma maneira bem divertida, relata a razão da infância ser uma construção social:


Até que um dia, faz mais ou menos uns 300 anos, as grandes deram de inventar um sujeito que chamaram de “Indivíduo”, para viver num período chamado “Modernidade”, que também estava sendo inventado. Este tal Indivíduo era um cara muito exibido, metido a besta, chato e irritante – “um mala-sem-alça”, como se diz hoje, e ainda sem rodinha, no meio da rua, de papelão e na chuva-, que começou a prestar atenção nas novas gentes. Não uma atenção desleixada e qualquer, mas uma atenção sem limites, que ambicionava darlhes uma “vida própria” (ele que criou essa expressão, com o sentido que queria), para fazê-las – como ele dizia- “existir” em separado das gentes grandes, em um mundo específico e autônomo, só delas! ( 2002, p. 32)

Explica-se desse modo o surgimento da infância que temos hoje, essa preocupação que se tem para com os pequeninos, e com tudo o que lhes pertence. E assim como no século XVII, em que as crianças eram adultos em miniatura, vemos novamente isso acontecer hoje com muitas crianças. As roupas são parecidas com as dos adultos (o mesmo modelo, cores, de repente com um pouco mais de brilho.), os sapatos (desde quando faz bem para os pés das crianças o uso de botas e sandálias altas?), os jogos e os entretenimentos
(celulares, MP3, MP4, DVD’S, CD’S) e quando nascem já tem um futuro estipulado (o que ele poderá ser quando crescer?). A infância passa a ser uma fase que deve ser ultrapassada, assim como a velhice é uma fase a ser alcançada. E esse ultrapassar, na verdade, é um vir a ser. São projeções adultas para o futuro da criança.

2 comentários:

  1. Meu texto!!!! Que bom que ele está sendo partilhado!!! Sem querer acabei conhecendo o blog de vcs e já o adicionei nos meus favoritos! Abraços
    Marisete Schmidt

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  2. Olá Marisete Schmidt!
    Obrigada!
    Volte sempre...será um prazer recebê-la em nosso espaço.
    A troca de visitas aumenta a socialização entre os profissionais de Educação Infantil.
    Abraços

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